Você conhece a história da Tatuagem? | Parte I

Muita gente enxerga a tatuagem como algo estético, simbólico ou pra algo pra homenagear pessoas e passagens importantes da vida. Quando vemos filmes antigos, poucas vezes aparecem uma pessoa tatuada, não é mesmo? Mas será que a tatuagem é algo tão recente assim?

Pelo contrário, a tatuagem existe desde nos conhecemos por gente! Tatuar o corpo poderia ter várias razões: religiosas, ritualísticas, registro de histórias individuais, identificação de grupo, camuflagem em guerras, marcação de escravos e prisioneiros, distinção de classes e fins terapêuticos.

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É difícil encontrar registros antigos de tatuagens porque a pele não se preserva por muito tempo depois da morte. Mas há casos excepcionais de peles bem preservadas: múmias. Com as múmias, sabemos que pelo menos desde o Período Neolítico (de 8000 a.C. até 5000 a.C.), as pessoas se tatuavam. E esse é o caso do Ötzi, o Homem de Gelo.

Ötzi, o primeiro tatuado


5,3 mil anos, nos Alpes orientais, um homem que media cerca de 1,65 metros de altura, pesava 50 kg e tinha entre 30 e 45 anos, levou uma flechada no ombro, provavelmente em um ato de vingança. O homem que já era cheio de problemas de saúde não resistiu aos ferimentos e sangrou até morte. Caiu de bruços no chão e foi encoberto pelo gelo.

Seu corpo? Só foi descoberto por um casal de turistas em 1991 (quase cinco milênios e meio depois!) e um detalhe importante: ele tinha 61 tatuagens em seu corpo.

Prazer, esse é Ötzi, o Homem de Gelo, uma das múmias mais bem preservadas da História e o primeiro tatuado que conhecemos.

Pelo estado de preservação de Ötzi, temos informações valiosas sobre quem ele era e até de sua última refeição: feita apenas 2 horas antes de sua morte. Suas tatuagens foram feitas com pequenas incisões esfregadas com carvão, descobertas pela primeira vez só em 2015. Eles variam de 1 mm a 3 mm de espessura e 7 mm a 40 mm de comprimento. A maioria consiste em linhas paralelas umas às outras.

O caso das tatuagens de Ötzi provavelmente está relacionado ao fato de que, na Europa pré-histórica, curandeiros utilizavam carvão para realizar cortes e desenhos acreditando que isso traria saúde para as pessoas da tribo. Isso bate com o fato de que Ötzi foi encontrado com um tumor no pé, cálculos bilares, articulações desgastadas, gengivite aguda, parasitas intestinais, problemas arteriais e, provavelmente, doença de Lyme.

Antiguidade


Mil anos depois, vamos para o Egito, onde encontramos outros registros históricos das tatuagens em múmias. Mas esses registros são exclusivos a múmias femininas, como a de Amunet, que viveram entre 2160 e 1994 a.C. e apresentam traços e pontos abstratos, provavelmente relacionados a rituais de fertilidade, e representações da deusa da fertilidade e proteção dos lares, Bes.

Entre 2000 e 1500 a.C., os povos austronésios (aborígines taiwaneses, habitantes do sudeste asiático, micronésios, polinésios, papuas, melanésios e o povo malgaxe) são conhecidos como um dos maiores artistas da tatuagem na Antiguidade, desenvolvendo uma das primeiras tecnologias para esse fim. A técnica consistia em puncionar a pele usando um pequeno martelo e um instrumento perfurante feito de espinhos de plantas cítricas, espinha de peixe, osso e cascas de ostra.

Para os povos do Taiti, a arte da tatuagem teria sido ensinada pelos deuses e deveria ser praticada de acordo com uma liturgia específica. Como exemplo, só os homens podem tatuar o corpo todo, enquanto as mulheres apenas braços, pernas e rosto.

Homem do povo Maori tatuado (Créditos:  © Daniele Pisani/Shutterstock)

Curiosidades sobre os povos austronésios: os maoris, nativos da Nova Zelândia, utilizavam as tatuagens para classificar níveis hierárquicos e distinguir classes sociais (algo comum entre os povos polinésios). Figuras inspirais destacavam isso: quanto mais inspirais, mais alto o indivíduo se posicionava na hierarquia. Isso excluía os escravos. Quando um dos líderes maoris morria, a cabeça tatuada era preservada na casa do morto pela família, tratando-a como relíquia. Os símbolos e as tradições maoris, incluindo as tatuagens, são práticas milenares – presentes até hoje.

Em diversos lugares, a tatuagem se tornou recorrente por razões ritualísticas, relacionadas a guerra, a fins terapêuticos e a distinção de classes, como os nativos-americanos pré-colombianos, no Japão (povo Ainu), o povo Ioruba, Fulani e Hausa da Nigéria, na Indochina (povos austroasianos), no Norte da África (mulheres berberes de Tamazgha) e os galeses e pictos na Grã-Bretanha, durante a Idade do Ferro.

Na África, a prática da escarificação substituía a da tatuagem, tendo os mesmos propósitos rituais (como os de passagem), terapêuticos (com a finalidade de introduzir medicamentos) e de identificação cultural. A escarificação envolve gravar, marcar, queimar ou cortar superficialmente figuras, imagens ou palavras na pele como uma modificação corporal permanente. Essa prática era mais comum em povos de pele escura, pois era mais fácil de ser observada do que as cores e os traços da tatuagem. Os ritos de passagens de algumas tribos do Sudão envolviam (e envolvem) três processos de escarificação nas mulheres: o primeiro, aos 10 anos de idade, elas são marcadas no peito; o segundo, na primeira menstruação, são marcadas nos seios; e no terceiro, após a gravidez, elas são marcadas nos braços, pernas e costas.

Homem na Nigéria com escarificação ritual, 1952. (Créditos: Prof. C.F.A. Bruijning)

A China, na Antiguidade, adotou um uso um pouco diferente para a tatuagem, onde passaria a marcar criminosos com 囚 – que significa “prisioneiro”.

Costas de um homem japonês tatuado, c. 1875 (Créditos: Kusakabe Kimbei/Domínio Público)

Na próxima parte, veremos a história da tatuagem pós-ascensão do Cristianismo, a ocidentalização da tatuagem, a invenção da máquina de tatuar, a cultura do Japão e da Índia, os militares e a moda.


Você de Praia Grande e da Baixada Santista planeja fazer uma tatuagem? Conheça o trabalho da Malafai Studio Tattoo.

Referências:

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