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Porto Seguro ou São Vicente? Qual a primeira cidade do Brasil

O saber popular de várias regiões conflita em várias questões. Uma delas é: qual a primeira cidade do Brasil? Muitos da Bahia vão dizer “ah, é claro que foi Porto Seguro, pois aqui foi onde os portugueses chegaram”; mas na região da Baixada Santista, vão dizer com orgulho que “não, São Vicente é a primeira cidade”. Quem está certo? A resposta é: Ninguém. Nenhum dois estão certos. Vou dizer o porquê, mas as duas cidades vão ter seus motivos de se orgulharem de uma rica história.

Primeiro, vamos definir o que é uma cidade. O Dicionário Michaelis define uma cidade como uma:


Grande aglomeração de pessoas em um área geográfica circunscrita, com inúmeras edificações, que desenvolve atividades sociais, econômicas, industriais, comerciais, culturais, administrativas etc.; urbe.

Ok, temos a definição de cidade agora. Mas vemos que uma cidade é algo muito complexo. Não me parece a primeira coisa que você funda quando adentra um novo território, não?

Mas vamos um pouco voltar ao passado na história do Brasil… ou até o evento que originaria o que chamamos hoje de Brasil: a descoberta do território pelos europeus em 1500.

A descoberta do território
tem mais de uma polêmica


Primeiro, muitos historiadores evitam o termo “descoberta do Brasil” de forma isolada. O território já era habitado por nativos de múltiplas etnias – cerca de dois milhões de indígenas de norte a sul. Falamos mais de “chegada dos europeus” do “descoberta do Brasil pelos europeus“. Pelos portugueses? Aí que tá. Taí uma informação que pode fazer você ficar se questionando: muito provavelmente, os portugueses não foram os primeiros europeus no território brasileiro.

Diversos estudiosos apontam que o navegador e explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón chegou no Cabo de Santo Agostinho, no litoral de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500… isto é, três meses antes de Pedro Álvares Cabral!

Desembarcando na noite, Pinzón e seu contra-almirante Diego de Lepe avistaram fogueiras acesas à distância. Era um claro sinal de que não estavam sozinhos. Mesmo assim, batizaram a região de Santa Maria de la Constelación. De manhã, Pinzón passou por um rio e, em registros de Pietro Martire D’Anghiera, relatou um conflito com indígenas potiguaras na margem, o que fizeram seguir viagem. Meses depois, Pinzón passou pela foz do Rio Amazonas, depois pelo atual Golfo de Paria (nordeste da Venezuela) e, então, seguiu em direção ao Mar do Caribe.

Então, Cabo de Santo Agostinho, no litoral de Pernambuco, é a primeira cidade brasileira? Não, meu querido. Pinzón não se assentou na região. Ele chegou, arrumou briga e vazou. O cara não pôde reclamar o território para a coroa da Espanha por causa do Tratado de Tordesilhas de 1494, que dividiu as terras “descobertas e por descobrir” do continente americano entre espanhóis e portugueses.




Vicente Yáñez Pinzón e o Cabo de Santo Agostinho
(Créditos: Wikimedia)

Então vemos que Cabral não foi o primeiro europeu a pisar no território brasileiro.

Pedro Álvares Cabral, com sua frota de 13 navios (naus e caravelas), ancorou na costa da região onde hoje é Porto Seguro, Cruz Cabrália e Prado em 22 de abril de 1500. Cabral explorou o local e retornou para Portugal para informar o rei da descoberta, por meio de uma carta detalhando tudo que foi visto — escrita pelo escrivão da expedição Pero Vaz de Caminha.

Não temos a certeza onde foi exatamente o ponto de desembarque dos portugueses. Mas acontece que: o lugar onde hoje é Porto Seguro só formou um vilarejo em 1535! Sim, uma vila e, portanto, não uma cidade.

Vamos novamente recorrer ao Dicionário Michaelis para entender o que é uma vila:

Povoação de maior importância e graduação que a aldeia e menor que a cidade.


Desembarque de Cabral em Porto Seguro, óleo sobre tela de Oscar Pereira da Silva, 1922. Acervo do Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro).
(Créditos: Wikimedia)


Então Porto Seguro é a primeira vila do Brasil?


Não, Porto Seguro não é a primeira vila do Brasil! A primeira vila do Brasil foi fundada em 22 de janeiro de 1532 e é… São Vicente!

O fidalgo português Martim Afonso de Sousa fundou a vila — numa ilha já descoberta pelos portugueses em 1502 em uma expedição do navegador Gaspar de Lemos, que foi batizada em homenagem a São Vicente Mártir (a Ilha de São Vicente, que engloba hoje territórios de São Vicente e Santos) —, sob as ordens do rei de Portugal, dom João III.

Nessas vila, construíram um pelourinho, uma igreja, uma cadeia e uma câmara, além de diversos símbolos da colonização. Nota-se que, em 22 de agosto do mesmo ano, foram realizadas as primeiras eleições em todo o continente americano, elegendo Oficiais (equivalentes a vereadores hoje). Obviamente, não eram eleições democráticas pois, além do caráter colonialista, era apenas reservada a nobreza portuguesa.


Então qual é a primeira cidade brasileira?


Bom, vimos que São Vicente é a primeira vila do Brasil, mas só foi elevada a categoria de cidade em 1895. Já Porto Seguro só virou cidade em 30 de junho de 1891. Então Porto Seguro é a primeira cidade do Brasil? Não, meu filho. Nesse meio tempo, diversas cidades se formaram no Brasil.

A primeira cidade do Brasil foi… Salvador, elevada como cidade em 1549 por Tomé de Souza, para servir de sede da administração colonial portuguesa do Brasil. E detalhe: Salvador, por esse status, foi a capital do Brasil até 1763, quando foi substituída pelo Rio de Janeiro e só depois, em 1960, por Brasília.

Então os baianos cultivam esses dois legados históricos: o local da chegada dos portugueses e a primeira cidade do Brasil (que não é Porto Seguro). Enquanto São Vicente é a primeira vila brasileira e o local das primeiras eleições do continente americano.

FONTES:

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro na Universo Racionalista e colaboro com a divulgação de seu site e página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.

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