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O que conhecer em Praia Grande (1): Fortaleza de Itaipu

Muita gente sabe que Praia Grande, no Estado de São Paulo, é uma cidade nova — de apenas 53 anos. Provavelmente, muito membro da sua família – ou até você, quem sabe – é mais velho que a cidade. Então, isso faz as pessoas pensarem que Praia Grande não tem história. Porém, temos que pensar que a história de Praia Grande é muito mais longeva que seus 53 anos.

Praia Grande era território de São Vicente até 1967…. e São Vicente foi a primeira vila brasileira, fundada em 1532! Bom, agora acho que você não encontra nenhum parente com 488 anos. Se sim, mande-o ser estudado pela ciência e pegue seu prêmio do Guinness, o livro dos recordes.

Antes da chegada dos portugueses, o território era habitado por índios tupiniquins. Com a colonização, o território ficou conhecido como Praia da Conceição e fez parte do trajeto do Padre José de Anchieta (o famoso que deu nome a rodovia) para Itanhaém.

Com o passar do tempo, o território de Praia Grande foi ocupado por sítios e loteamentos, dedicados a atividades agrícolas e artesanais. Nesse meio tempo, entramos na história da Fortaleza de Itaipu, ou melhor, Forte Duque de Caxias de Itaipu. Ele fica aonde? Na Ponta do Itaipu da Barra de São Vicente, no bairro do Canto do Forte. Ou seja, na “botinha” de Praia Grande, que lembra a “botinha” da península itálica.



A “botinha”, vulgo, a Ponta do Itapu
(Créditos: Google Maps, 2020)

Segundo o historiador Costa e Silva Sobrinho, o termo Itaipu remonta ao fato de que “(…) vinha do mar um vento forte, as ondas perseguiam-se e cresciam até chocarem-se nas extensas rochas, onde violentamente se erguiam transformadas em espumas. Os nossos índios chamavam a isso de itaipu.”

A Fortaleza de Praia Grande


Estamos no contexto da Revolta da Armada (1891-1894), um movimento de rebelião promovido por membros da Marinha brasileira contra recém-formada República; mais precisamente contra os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Como eram membros da Marinha, é de se esperar que a maioria dos ataques dos rebeldes seria pelo mar, não?

A capital do Brasil na época era o Rio de Janeiro, ou seja, muito mais fácil de se atacar pela costa. E aqui na nossa região, sempre tivemos um ponto bastante estratégico para a defesa e o comércio nacional e internacional (tanto que a Baixada Santista tem várias fortalezas nas suas costas para, principalmente, protegê-lo): o Porto de Santos. Então, nesse contexto de rebelião de uma galera que ataca pelo mar, talvez era hora de modernizar a artilharia e, quem sabe, construir mais uma fortaleza. Foi essa a ideia do 2º presidente do Estado de São Paulo (sim, naquela época os estados tinham presidentes, não governadores), Bernardino José de Campos Júnior (mandato: 1892-1896), que ainda por cima era um republicano aliado de Floriano Peixoto. Já vi um monte de rua com o nome desse cara.

Bernardino destacava que só haviam fortalezas lá pros lados de Santos (Forte Augusto) e Guarujá (Fortaleza de Santo Amaro), deixando a Barra de São Vicente bastante vulnerável aos ataques. E então, já no final do seu governo, com o fim da Revolta, apresentaram um projeto do arquiteto Erico Augusto de Oliveira para a construção de uma nova fortaleza na nossa “botinha”.

E então, antes de qualquer construção, a Baixada Santista acabava por receber seis canhões Krupp 150 mm L/50 da Alemanha em 1901. Foi no ano seguinte que as construções da fortificação começaram no Aviso n.º 5 do Plano de Defesa de Santos, durante o governo do Presidente do Brasil na época Manoel Ferraz de Campos Salles (mandato: 1898–1902; o início da política dos oligarcas do café e da pecuária – a chamada política do café-com-leite).

A Comissão do Plano de Defesa contou com o auxílio do 24.º Batalhão de Infantaria, acampado na Praia Grande, comandado do capitão Tude Bastos Neiva Lima (tem um famosíssimo bairro em Praia Grande que leva o nome dele). A Comissão passou a dedicar a projetar a infraestrutura do local: como a contenção de encostas para um terrapleno voltado para o mar aberto, a abertura de estradas e a construção de pontes de acesso e de um viaduto com vão livre de 20 metros e flecha de seis metros.

E já no ano seguinte, no governo do presidente do Brasil da época Francisco de Paula Rodrigues Alves (mandato: 1902–1906; aliás, o primeiro presidente a morrer numa pandemia – a gripe de 1918, que matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo todo), começou a construção da primeira bateria de obus, que auxiliaria contra ataques terrestres, mas só foi inaugurada em 1909, levado o nome de Bateria Gomes Carneiro, composta por um Paiol, um Posto de Observação e canhoneiras com peças Krupp de 75mm. Já começava a se formar o Forte Duque de Caxias — nome em homenagem ao militar Luís Alves de Lima e Silva, único a receber o título de “duque” na história do Brasil —, com obras complementares em 1910 comandadas pelo o Coronel Ximeno Villeroy.



A construção do Forte de Itaipu na década de 10.
(Créditos: Novo Milênio)


As instalações do Forte Duque de Caxias e, ao lado, do Forte de Jurubatuba só foram entregues dez anos depois entre 1918 e 1920, equipando-os com canhões franceses Schneider-Canet de 150 mm, com alcance de 9km. O Jurubatuba era um forte auxiliar, junto a Bateria Gomes Carneiro, nesse complexo militar de fortificação (denominado de 3.º Grupo de Artilharia de Costa – Fortaleza de Itaipu) e ficava virado para a Baía de Santos. Vamos ver mais tarde o que aconteceu com ele.


Forte Jurubatuba na década de 20, com a 1ª bateria de canhões.
(Créditos: Novo Milênio)


O que aconteceu com o Forte Jurubatuba?
Uma história intrigante de Itaipu


Em 1932, as oligarquias paulistas planejaram uma sangrenta revolta armada contra o Governo de Getúlio Vargas (governo: 1930 – 1945) sob o pretexto de apressar o processo de uma nova constituinte no Brasil: era a famosa Revolta Constitucionalista de 1932, que até é feriado no Estado de São Paulo (9 de julho, que marca o início da revolta).

Acontece que os militares do Forte de Itaipu ficaram ao lado dos rebeldes. O que rolou? As forças governistas, percebendo que era um ponto estratégico, bombardearam as fortificações com uma esquadrilha de hidroaviões Savoia-Marchetti S.55. O Forte Jurubatuba foi destruído e deixado em ruínas (aberto atualmente para visitas).


O inventor do avião Alberto Santos Dumont
(Créditos: Força Aérea Brasileira)


E então, hospedado no Grand Hôtel La Plage (onde hoje é o Shopping La Plage) no Guarujá, estava o inventor do avião, o brasileiro Alberto Santos Dumont, que presenciou a cena do bombardeio de longe. Desorientado, saiu do saguão onde estava e teria comentado com o ascensorista do elevador:

Eu nunca pensei que minha invenção fosse causar tanto derramamento de sangue entre irmãos! O que eu fiz?

Dumont então dirigiu-se a seu quarto, vestiu suas roupas de piloto e amarrou ao teto uma de suas gravatas vermelhas. Aos 59 anos, Dumont cometeu suicídio por enforcamento — muito provavelmente por um gatilho causado ao ver sua invenção sendo usada como máquina de guerra e para uma revolta sangrenta de brasileiros contra brasileiros; tudo isso, claro, somado aos anos que Dumont tinha de saúde física e mental debilitada.

Depois do bombardeio, os militares e os revoltosos retiraram os verdadeiros canhões Schneider-Canet e colocaram réplicas de madeira do lugar. Assim, levaram a artilharia e sua munição para o chamado “Fantasma da Morte“, um trem adaptado pelos revoltosos para a linha de frente do combate contra os governistas.

Dois anos depois, em maio de 34, o 3º Grupo de Artilharia de Costa passou a ser designado como 5º Grupo de Artilharia de Costa.


Preparado para a Guerra


E logo depois veio a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, e a costa devia estar modernizada e preparada para qualquer invasão ou sabotagem. Por isso revisaram todo o sistema de defesa e decidiram aumentar o poder de fogo. A Fortaleza recebeu mais uma bateria, chamada Forte General Rego Barros, totalmente subterrânea. Aqueles canhões que antes auxiliaram os revoltosos constitucionalistas, deram lugares a canhões da Vickers-Armstrong de 152,4mm, modelo XIX de 1917, adquiridos dos Estados Unidos, aliado do Brasil na Guerra. Cada um pesava cerca de 11 toneladas, com um alcance de tiro de até 18.000 metros e cadência de até 3 tiros por minuto. Mas quatro dos antigos Schneider-Canet ainda guarneciam o Fortaleza de Itaipu na década de 50.


Canhões da Vickers Armstrong com calibre 152,4mm.
(Créditos: CC BY 2.5)


Em março de 1960, o 5.º Grupo de Artilharia de Costa, composto pelas baterias Gomes Carneiro, Jurubatuba e Duque de Caxias, foi extinto; foram substituídos em 1 de abril do mesmo ano, pelo 6.º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado (6º GACosM), com sede em Santos, que ocupou as instalações da fortaleza onde estavam as baterias, estando muitas delas bem conservadas ou em estado de semiconservação.

Em 1999, os canhões Vickers-Armstrong foram substituídos pelo sistema brasileiro de saturação de área ASTROS II, voltados a defesa virtual através de lançadores múltiplos de foguetes fabricado pela empresa brasileira Avibras.

Aberto a visitação


A Fortaleza, desde 1994, se encontra aberta para a visitação, mantendo sob sua guarda uma das últimas reservas de Mata Atlântica para um passeio cultural, histórico e ecológico.

O complexo encontra-se sob jurisdição do Governo Federal, administrado pelo Exército Brasileiro, e sedia o 2º Grupo de Artilharia Antiaérea (2º GAAAe) – “Grupo José Bonifácio e Fernando de Noronha”, que substituiu, em 2004, o 6.º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado.

Com entrada de R$ 5,00, as instalações estão abertas à visitação pública, aos sábados, domingos e feriados das 10h00 às 12h00 e das 14:00 às 18h00.



Como chegar:

  1. Partindo do centro de Praia Grande: Av. Presidente Castelo Branco – Rua Gaspar Viana – Av. Mal. Mallet.
  2. Vindo pela Rodovia Pe. Manoel da Nóbrega, de São Vicente ou da Rodovia dos Imigrantes: ao chegar ao trevo de entrada de Praia Grande, entrar na Av. Mal. Mallet, seguindo até seu final.


FONTES:

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro na Universo Racionalista e colaboro com a divulgação de seu site e página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.

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